O Artigo “Comunicação e informação de museus na Internet e o visitante virtual”, de Rosane Maria Rocha de Carvalho, publicado na revista Museologia e Patrimônio (Vol. 1, No 1, 2008),

analisa as transformações na relação museu e público, a partir das novas tecnologias. No artigo, Carvalho considera os museus como sistemas de informação e o quanto a Internet contribui para a formação de um público virtual, para expandir a visitação in loco às exposições e aos demais setores de informação do museu, de forma integrada.

Baseado na tese de doutorado em Ciência da Informação, a metodologia compreende o Museu Histórico Nacional do Rio de Janeiro – MHN como ambiente de estudo, o quadro teórico com autores da Ciência da Informação, da Museologia e da Comunicação e a pesquisa empírica, desenvolvida em duas etapas: análise das mensagens do correio eletrônico de visitantes virtuais do MHN para caracterizar o seu perfil e principais demandas de informação; verificação, com base em entrevistas via Internet, do comportamento e da relação entre público presencial e virtual de museu.Imagem

No artigo foram desenvolvidos três grupos de questões relacionadas a museus na Internet: os conceitos e definições, as pesquisas e o quanto as tecnologias da informação influenciam o visitante. 

Ela explica que, com o crescente desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação, é oportuno analisar os vários tipos de ações que o Museu possa desenvolver na Internet. Com a expansão da rede na década de 90, multiplicaram-se sites de Museus, dedicados aos mais diferentes temas, com nomes e tipologias, permitindo ao usuário da Internet “visitar”, num mesmo dia, museus localizados fisicamente em diferentes continentes. Muitos destes sites são espelhamentos de instituições museológicas construídas no espaço físico. Essa capacidade de alcance possibilitada pelas redes eletrônicas, chegou a despertar o questionamento de que os museus físicos pudessem ser substituídos por seus equivalentes digitais.

Segundo Werner Schweibenz, os museus virtuais na Internet estão “em construção” há apenas 10 anos. Este é um período curto, comparado à longa tradição dos museus de “pedra e cal”. O museu virtual ainda não tem uma definição aceita amplamente e tampouco um termo unívoco estabelecido para designá-lo, sendo chamado também como museu on-line, museu eletrônico, hipermuseu, museu digital, cibermuseu ou web museu, dependendo dos antecedentes dos praticantes e pesquisadores trabalhando neste campo (SCHWEIBENZ, 2004, p. 3).

 

Pontos fortes

Pontos fracos

Desafios

Como o mundo digital estimula ou altera o trabalho do museu “presencial”?

Quais são suas forças?

Quais são suas fraquezas?

O museu virtual aponta a morte do museu como nós conhecemos?

A extensão digital do museu na Internet é um museu sem muros.

“o museu virtual não é competidor ou perigo para o museu de ‘pedra e cal’ porque, pela sua natureza digital, não pode oferecer objetos reais aos visitantes, como o museu tradicional faz. Mas pode estender as idéias e conceitos das coleções para o espaço digital e desse modo revelar a natureza essencial do museu” (SCHWEIBENZ, 2004, p. 3)

Entusiastas – amplo museu virtual mundial

O museu virtual vai atingir os visitantes virtuais que podem nunca ter tido a possibilidade de visitar um certo museu pessoalmente.

   

As características da Internet hoje lhes conferem configuração hipertextual, propiciando a conectividade e ampliando as possibilidades de interação com a obra (LOUREIRO, 2003, p. 178).

Diferem dos museus físicos, ainda pelo seu caráter provisório e não necessariamente institucional, e pela imaterialidade inerente à imagem digital (LOUREIRO, 2003, p. 178).

A existência simultânea de museus físicos e eletrônicos constitui uma marca deste século no âmbito cultural contemporâneo. Embora as funções museológicas sejam as mesmas, no mundo físico e no ciberespaço, os museus apresentam características diferenciadas.

Os museus no espaço físico apresentam materialidade, ênfase na obra única, permanência, estabilidade, caráter institucional por definição, linearidade, processo de comunicação e transferência de informação unidirecional e assimétrico; tendência à separação dos pólos receptor/emissor (LOUREIRO, 2003, p. 172).

Os museus no ciberespaço se caracterizam pela imaterialidade, ubiquidade, provisoriedade, instabilidade, caráter não necessariamente institucional, hipertextualidade, estímulo à interatividade e tendência à comunicação bi ou multidirecional (LOUREIRO, 2003, p. 172).

Gary Karp afirma que a utilidade da Internet para os museus é bem reconhecida hoje, e a maioria dos museus opera tanto nos ambientes físico quanto digital (KARP, 2004). Os sites de museus tornaram-se, há muito, um lugar comum.

Uma denominação anterior, porém equivocada, foi “museu virtual”. Este termo tem sido usado subsequentemente por organizações que não mantém um museu físico, mas cujas manifestações culturais são indistinguíveis dos museus em “pedra e cal”.

Um museu é essencialmente o que o público aceita como museu e o que a comunidade profissional reconhece como tal.

O problema é que, embora seja fácil verificar a legitimidade da atividade do museu em “pedra e cal”, não há meios claros para verificar a legitimidade dos componentes digitais (KARP, 2004).

Já que o Museu Virtual não tem uma dimensão física e ainda parece idêntico ao ambiente digital de museus em “pedra e cal”, como se pode separá-los? Instituições virtuais só podem ser acessadas na base do material digital que proporcionam na Internet (KARP, 2004).

Embora um termo genericamente aceitável para esses museus ainda precise ser consolidado, corpos digitais criados são participantes significativos no processo de elaborar este setor cultural. Estes corpos desenvolvem material criado digitalmente, aplicados digitalmente na Internet, de maneira a obter a concordância completa com os padrões estabelecidos da profissão museológica. “Museu Virtual” é uma poderosa metáfora que pode ser aplicada para a apresentação de atividade criativa assim como repositórios de conhecimento. Certamente é no melhor interesse da comunidade museológica estabelecida aproveitar este potencial, em vez de travá-lo (KARP, 2004).

A ideia de tornar-se virtual pode não ser uma ideia agradável para alguns museus, especialmente para museus de arte que apreciam o ideal da “coisa real” e sua aura (SCHWEIBENZ, 2004).

Porém, este desenvolvimento é inevitável em função da crescente digitalização do patrimônio cultural e da demanda de tornar as coleções mais acessíveis. Eventualmente, estas tendências vão diminuir as diferenças entre as instituições de patrimônio cultural e, a longo prazo, estas instituições vão fundir-se numa instituição de memória (SCHWEIBENZ, 2004).

Museus Virtuais no Brasil

Miranda (2001), sobre sites de museus, a partir da análise de 24 museus de arte

 

A análise dos resultados confirma uma

reduzida utilização do site como importante ferramenta nas ações de disseminação e divulgação, quer seja da instituição e/ou, de seus conteúdos

informacionais. Quanto à instituição, observa-se uma reduzida atenção à

atualização das informações, principal motivador de um retorno a qualquer

site.

 

Miriam Leite afirma que, segundo a Comissão de Patrimônio Cultural da USP, em seu Guia dos Museus Brasileiros, dos quarenta e um museus do Estado do Rio de Janeiro, apenas onze ainda não dispõem de site na rede.

Ao visitarmos estes endereços virtuais, podemos perceber que o seu objetivo primeiro é a divulgação do acervo e da programação dos museus reais: Alguns o fazem de forma bastante completa: informam sobre a história do museu e disponibilizam imagens das suas instalações e de parte do seu acervo, utilizando de modo eficiente o potencial de divulgação da Internet.

Mas a Internet pode ser mais do que isso. Não temos ainda, no nosso Estado, museus virtuais e são relativamente poucos no mundo – , nem trabalhos específicos criados para a rede pelos nossos museus. (LEITE, 2002, p. 84, 85)

“Todos sabemos dos altos custos de tal empreendimento – o que é surpreendente é que tenhamos conseguido efetivar qualquer tipo de presença na Internet com os parcos recursos de que os museus dispõem para todas as suas necessidades”.

Trata-se de democratizar de forma radical o acesso às exposições, permitir um contato interativo com os objetos expostos e criar redes de discussão, que poderão dar continuidade à experiência de visitação ao museu. (LEITE, 2002, P. 85)

   

Fine Arts Museum de San

Francisco, que propõe ao seu visitante virtual que seja curador de sua própria exposição, uma exposição virtual, selecionando obras dentre as mais de setenta e cinco mil imagens digitalizadas de sua coleção de arte e disponibilizadas na sua página, com direito a produzir convites para a vernissage da sua exposição.

   

Na medida em que usuários das classes econômicas menos favorecidas tenham acesso à Internet, estes sites terão sua importância ampliada. O acesso à cultura é uma forma de inclusão social e de exercer a cidadania.

   

A autora constata que, a partir da literatura analisada e da discussão das idéias de autores, o museu virtual é aquele construído sem equivalência no espaço físico, com obras criadas digitalmente, não sendo substituto equivalente ou evolução dos primeiros. Os recursos eletrônicos poderiam propiciar maior disseminação e transferência da informação? As tecnologias são também enfatizadoras de transferência da informação.

Nesse sentido, o estudo dos canais de comunicação e mecanismos de transmissão entre fontes do conhecimento e seus usuários potenciais na sociedade é uma contribuição da Ciência da Informação para o desenvolvimento social, econômico e cultural. Por sua vez, a relevância das atividades de comunicação e informação. 

[Artigo acessado no dia 17/10/13 e retirado do site: http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/8/4]

A trajetória do ensino da Museologia no Brasil

A trajetória do ensino da Museologia no Brasil

O artigo de Gabrielle Francinne de S. C. Tanus traça a trajetória do ensino da Museologia no país. Ela começa explicando o contexto em que o ensino de Museologia se inicia – com a criação do Museu Histórico Nacional, em 1922, que previa a criação de um Curso Técnico com dois anos de duração. Porém, um curso de museus sob a direção do Museu Histórico Nacional concretizou-se somente em 1932. Atualmente, o Brasil apresenta 14 cursos regulares de Museologia em funcionamento e um curso que ainda não iniciou suas atividades (FAECA/SP). Visto isso, o artigo mostra que agora é um momento oportuno para uma reflexão desta trajetória, demonstrando as influências e acontecimentos que marcaram o percurso desses cursos.
Nesta trajetória, Tanus fala do primeiro Curso de Museus no país; o segundo curso, desta vez universitário, na UFBA em 1969; o curso de pós-graduação em São Paulo em 1977 e os novos cursos de hoje. Em um primeiro momento, esta trajetória foi marcada por esforços individuais de seus idealizadores, cada qual em seu momento, como no Rio de Janeiro, com Gustavo Barroso; na Bahia, com Valentin Calderón; e em São Paulo, com Waldisa Rússio Camargo Guarnieri.
Tanus insiste em seu artigo que acredita que com essa recente configuração dos cursos de Museologia vinculados a institutos, escolas e departamentos diferentes, como cursos de Biblioteconomia e de Arquivologia, delineia-se uma nova fase no ensino da Museologia, que pode ser intitulada como fase acadêmico-institucional.
Explica que “nesse novo cenário, diferente de quando foi criado o primeiro curso da área, é um momento propício para a ampliação da discussão sobre o campo e do contato entre os diferentes cursos, para a manutenção um ambiente favorável a essa nova configuração do ensino e do campo; haja vista que todos os 14 cursos de Museologia estão institucionalizados em espaços acadêmicos de ensino, pesquisa e extensão” (TANUS, 2013, p. 84).
Concordo com as reflexões da autora do artigo. Realmente, acho indispensável que os profissionais e os museólogos deem prosseguimento nas reflexões, dando continuidade à formação e expansão do pensamento museológico brasileiro, tal qual fizeram os primeiros pensadores do campo.
Acho interessante destacar que a Tanus espera que, além dessa pesquisa histórica, este trabalho desperte, sobretudo, em todos aqueles interessados (e futuros museólogos) a importância de manter uma reflexão contínua sobre o ensino e o campo científico da Museologia. Ela chama a atenção “para que os futuros museólogos, profissionais, pesquisadores e professores, responsáveis pela construção, manutenção e trajetória dos cursos de Museologia, atentem-se para o necessário embasamento teórico, que guia tanto o curso por meio de seu projeto político-pedagógico e seu currículo, quanto às práticas museológicas” (TANUS, 2013, p. 86).

Referências:
TANUS, Gabrielle F de S. C. A trajetória do ensino da Museologia no Brasil. Revista Museologia & Interdisciplinaridade, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília, Vol. 2, No 3, 2013.
Artigo consultado no dia 20 de agosto:
http://www.red.unb.br/index.php/museologia/article/view/7300

“Nós que aqui estamos por vós esperamos” é um filme documentário de 1999, do diretor Marcelo Masagão.

O filme retrata um complexo mosaico de memórias do século XX, como uma volta ao mundo histórica, econômica e cultural, que tenta traçar o perfil, a identidade do homem deste século. Ao som de uma trilha sonora belíssima e comovente (música composta por Wim Mertens), aparecem imagens em preto e branco ou envelhecidas; imagens de arquivo de filmes clássicos, fotos, pinturas e textos produzidos no século XX, retratando o período de contrastes entre um mundo que se envolve em duas grandes guerras, a banalização da violência, o desenvolvimento tecnológico, a esperança e a loucura das pessoas. Dentre a massa de personagens anônimos ressaltam alguns rostos e nomes famosos: artistas, cientistas, intelectuais, líderes políticos e espirituais. Valores, tradições, poderes e saberes estabelecidos são desconstruídos: Picasso revoluciona as artes; Freud, o entendimento da mente e da subjetividade humanas; Lênin, a política, com o socialismo; e Einstein, a ciência. Yuri Gagarin (pai) conheceu a luz elétrica em 1931, enquanto Yuri Gagarin (filho) conheceu o espaço em 1961.
Masagão consegue então construir um poema visual – quase não há palavras – pois o filme constrói-se de breves momentos capturados pelo registro perspicaz, ou apenas incidental, de velhas câmeras e anônimos cineastas do acaso. Uma profusão de imagens e sequencias fragmentadas, ao invés de uma narrativa contínua e linear, que nos transportam da dor, do sentimento de vergonha em relação ao ser humano, ao encantamento, ao deslumbramento. Portanto, não é um filme pessimista, é um poema, e como tal, desequilibra.
Eu considero o filme uma obra de arte poética, por vezes nostálgica e melancólica, mas também política, crítica. Uma aula de história através de imagens de uma profunda eloquência muda. Exibe a vida como um poema visual, sem diálogos. É um filme que fala de memória, de relações de poder, de diversidade e diferenças, e das consequências da intolerância e indiferença de seres humanos diante de outros seres humanos.
O filme é vai muito além da mera diversão, ele nos deixa com uma sensação de incômodo, tristeza, beleza, indignação, melancolia e perda de fôlego, como se fosse um “soco no estômago”. As inúmeras cenas de guerras nos mostram a ignorância humana e como pessoas são capazes de matar e morrer para defender idéias de homens que não respeitam a vida nem o ser humano. Apesar das muitas cenas de morte apresentadas, a idéia é a de que, em uma guerra, não somente milhares de pessoas são mortas, mas também que milhares de histórias, sonhos e vidas, que são importantes para alguém em algum lugar, são interrompidas .
A mortalidade do ser humano está bem clara no filme. As imagens de cemitérios, túmulos e cruzes são recorrentes, bem como o detalhe das imagens de retratos fixados em lápides, que nos lembram que são corpos de pessoas que estão ali – pessoas que viveram histórias únicas. O filme, até então todo em preto e branco, torna-se colorido na última cena, que apresenta a imagem de um cemitério, aonde lemos a frase e título do filme “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, nos colocando em contato com o que temos de mais humano.